A união da extrema-direita e das direitas
Recomposição dos espectros partidários na ordem do dia
MUNDO – Carlos V. Ribeiro
A estratégia do Não, é não! é matéria que ultrapassa as fronteiras nacionais. Noutros países o tema das relações entre partidos da extrema-direita e da direita já anda a ser trabalhado há muito tempo. A derrota de Kamala nos Estados-Unidos veio avivar e acelerar as tensões no seio dos democratas. Por sua vez a vitória de Trump, acompanhada por nomeações inaceitáveis para a Casa Branca, que os republicanos conservadores mas democratas rejeitam, veio acelerar as fissuras no seio do Grande Velho Partido.
Melon,i em Itália, pratica um jogo duplo, entre políticas repressivas e medidas sociais que facilita uma transição pacífica para o autoritarismo.
Em França o atual líder do RN-Rassemblement National, Jordan Bardella, está a enfraquecer a linha oficial do partido que se baseia na ideia-força de “nem esquerda nem direita”.
Contrariamente à estratégia posta em prática por Marine Le Pen, o presidente do RN defende cada vez mais claramente a “união das direitas”. Uma posição que provoca tensões dentro do partido, como foi evidenciado pelas múltiplas mudanças de posição que surgiram durante os recentes debates orçamentais.
Como é sabido, no seio da direita portuguesa também existem fortes inclinações para aproximações ao Chega com o intuito de cavalgar a popularidade deste último em setores da população dificilmente recuperáveis com discursos e práticas de austeridade. Assim a vaga de fundo que aparenta estar em marcha e que pretende esmagar a esquerda na Europa precisa de ser estancada através de uma ação estratégica que precisa de fundir numa única corrente a defesa da democracia e do Estado Social.
A atuação quase-mafiosa [porque baseada nos ensinamentos da Máfia] de Meloni em Itália, que percebeu que para haver autoritarismo tem de existir uma cobertura transitória de medidas sociais, pode confundir a disputa entre os democratas e novos populistas dos ultraricos. No passado os populistas, como Péron, criaram condições para o surgimento de formas específicas e certamente incompletas de Estado Social nos seus países. Mobilizavam a classe média, os remediados e os pobres em torno de políticas públicas muitas vezes controversas porque nunca contrariaram os interesses das grandes multinacionais. Mas a relação de forças era razoavelmente clara. Não será agora o caso. Por isso na esquerda também tem que haver uma reformulação das formas de atuação e uma recomposição nas frentes de cooperação.
A mensagem só passará se houver convergência em torno de alguns temas que são determinantes e essenciais para o que aí vem: guerras regionais, recomposição dos mecanismos da globalização, um ciclo depressivo no emprego e um fosso cada vez mais gritante entre super-ricos, ricos e privilegiados e os novos “injustiçados” da economia e da desclassificação social.