9 de Outubro, 2025

José Luís Carneiro esteve em Alenquer a assobiar para o lado, mas o PS não pode ficar calado

por Carlos Valentim Ribeiro

OPINIÃO

Ontem à noite, dia 5 de outubro, houve jantar republicano em Alenquer num centro de eventos, em Porto da Luz. Uma sala cheia com o PS em batalha autárquica em paragem forçada, por respeito da tradição da comemoração sui generis da República na vila e no concelho alenquerense e porque o Secretário-Geral do partido, José Luís Carneiro, quis marcar presença no evento.

À mesma hora que aterravam em Lisboa quatro ativistas, Diogo Chaves, Sofia Aparício, Mariana Mortágua e Miguel Duarte, quatro cidadãos portugueses que participaram corajosamente na Flotilha Sumud Global para denunciar o genocídio de milhares de palestinianos em Gaza e revelarem ao mundo que o Estado de Israel não permite uma ajuda humanitária a um povo que quer extinguir, José Luís Carneiro tomava a palavra e iniciava um discurso retórico sobre a República, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

Sobre a luta do povo palestiniano e sobre as ações de solidariedade de milhões de pessoas no mundo contra o genocídio,
NEM UMA PALAVRA

Sobre as declarações do ministro Nuno Melo classificando os ativistas portugueses da flotilha de terroristas de adeptos do Hamas, nem uma frase.

Sobre a atuação hesitante e sempre a reboque dos acontecimentos do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, nem uma condenação.

Está enganado o atual Secretário-Geral do PS. Os socialistas estão com a luta da Palestina pela autodeterminação e pela instalação do seu Estado autónomo como estiveram no passado ao lado dos movimentos de libertação pela independência das colónias. Os socialistas são profundamente anticolonialistas, não toleram a opressão de um povo pela ocupação do seu território e pela imposição de interesses exteriores à sua vontade.

José Luís Carneiro preferiu falar dos valores republicanos. Era oportuno, verdade seja dita. Mas a mensagem produzida sobre os temas que valorizam o “espírito republicano” revelou um conjunto de equívocos sobre o republicanismo em matéria de liberdade, igualdade e fraternidade. As referências ideológicas do atual Secretário-Geral do PS são mais próximas da Teoria Social da Igreja e dos movimentos de cristãos pela justiça social que do socialismo democrático. Carneiro não tem sequer ideia da necessidade, como afirmava Jean Jaurés, de considerar a República como apenas um ponto de partida para a tarefa fundamental de construir uma sociedade baseada nos princípios do socialismo. Demarcar-se do republicanismo tout court, designadamente do chauvinismo e da desigualdade de direitos em relação às mulheres, surge nos dias de hoje como um imperativo de qualquer socialista democrático.

O que José Luís Carneiro afirmou ontem em Alenquer, criticando liberais e neo-liberais de uma forma vaga e imprecisa, poderia ter sido dito por qualquer partido democrático que também reconhece os valores republicanos.

Mas se a flotilha e a luta do povo palestiniano estiveram ausentes do discurso do Secretário-Geral do PS, a denúncia das políticas do governo da AD coligado informalmente com o partido da extrema-direita, e os graves problemas que estão a resultar de uma governação irresponsável, incompetente e dramaticamente comprometedora do futuro do país, nem sequer esteve no plano da intervenção do líder do PS.
NEM UMA PALAVRA.

Da mesma forma o partido protofascista Chega, com todas as situações desviantes associadas às eleições autárquicas que têm sido reveladas nos últimos tempos, não mereceram quaisquer comentários do orador. Sobre o Chega,
NEM UMA PALAVRA.

O PS está a sofrer ao mesmo tempo que luta. Os milhares de militantes querem um relançamento forte e entusiástico do partido, mas como se costuma dizer, assim não vamos lá.

Como se reclama por aqui “Um Novo Impulso para Alenquer” deveria ter o seu equivalente “Um Novo Impulso para o PS” para que o socialismo democrático seja a alternativa para o povo português.

Carlos Ribeiro, 6 de out.2025

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