LM |Peça Exílio[s] 61-74, publicada em França
SEM FRONTEIRAS | 3 de dezembro 2020 | LM-Livros do Mundo
O dramaturgo Ricardo Correia, diretor da estrutura de criação e programação da Casa da Esquina sediada em Coimbra, publicou nas PUM – Presses Universitaires du Midi, em França, a sua peça Exílio[s] 61-74 que foi traduzida por Emmanuelle Guerreiro e Marc Gruas.
A peça foi incluída na coleção Nouvelles Scènes, na qual vários dramaturgos de diferentes geografias como Portugal, França, Grécia, Itália, Marrocos e Equador tematizaram as questões das fronteiras.
Esta peça, Exílio[s] 61-74, foi escrita em 2017 a partir da colagem de testemunhos de exilados, refratários e desertores portugueses entre 1961 a 1974, incluindo fragmentos de obras do Teatro Operário de Paris e um discurso de Kaúlza de Arriaga.
A sua estreia foi a 13 de maio de 2017 (Arganil) na Cerâmica Arganilense, inserida no festival Outras Vozes, Outras Gentes da cooperativa Hermes numa produção da Casa da Esquina em coprodução com o TAGV. A peça integra o livro de teatro O meu país é o que o mar não quer e outros peças, editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra, na coleção Dramaturgo| 2019.
A peça integra o projeto “#ECOS. Exílios, contrariar o silêncio: memórias, objetos e narrativas de tempos incertos” coordenado pelo CRIA – Centro em Rede de Investigação em Antropologia [#ECOS – ]
Excerto da peça
- “
- B
- Se eu te responder
- a tudo o que me
- perguntas este espetáculo
- só vai acabar à meia-noite.
- Disse ela sorrindo
- para o público.
- D
- Eu queria fazer um espetáculo que durasse o tempo necessário para ouvir a história do…
- B
- Meu exílio.
- A
- E do meu.
- C
- E do teu.
- D
- Sim. E de todos os outros que decidi testemunhar e que passei a viver.
- Esta frase não é minha, é do Ricardo. Muitas destas frases não são…
- A, C e B
- nossas.
- D
- São de quem ousou fazer um gesto de protesto ao sair de Portugal no tempo do fascismo entre 61 a 74.
- Vão buscar os passaportes.
- D
- Pode alguém ser
- quem não é.
- A
- Pode alguém…
- B
- Ser quem não é.
- C
- Pode alguém…
- D
- Ser quem não é.
- Esta frase que acabei de dizer também não é minha.
- B
- Nós somos fiéis depositários destas memórias.
- D
- Nós gravámos estes testemunhos e são essas palavras que hoje vamos testemunhar. Como se fosse preciso repicar todas estas memórias para saber quem somos e como chegámos até aqui.”
RICARDO CORREIA
Diretor Artístico da Casa da Esquina, estrutura de criação e programação de Coimbra, com apoio sustentado da DGArtes para o quadriénio 2018-2021 onde desenvolve trabalho de criação transdisciplinar em regime colaborativo, investindo numa dramaturgia original, de mediação entre o real e a ficção, do arquivo como prática, implicando o documental, o autobiográfico, a pós-memória e o questionamento do território.
Desde 2001 que trabalha em teatro, cinema e televisão como ator, dramaturgo e encenador. Representado pela Agente a Norte. Encenou mais de uma vintena de espetáculos, apresentados em vários teatros, escolas, festivais prestigiados (FIT em Belo Horizonte, BE Festival em Birmingham) e em várias geografias internacionais (Vigo, Santiago de Compostela, Rio de Janeiro, São Paulo, Leipzig, Londres, Newcastle, entre outros).
É autor de cerca de uma dezena de textos para teatro. A compilação dos seus textos de teatro O meu país é o que o mar não quer e outros peças está editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra, na coleção Dramaturgo| 2019. E a sua peça Call Center, foi editada pelo Teatro Nacional D. Maria II & Bicho do Mato, no volume Laboratório de Escrita para Teatro – Textos 2017/2018 (coord. Rui Pina Coelho). A peça Exílio[s] 61-74 está editada em França com edição bilingue pela editora Les Presses universitaires du Midi da Universidade de Toulouse – Jean-Jaurès (UT2J) da antologia da Colecção Nouvelles Scènes, 2020.
Leciona desde 2013 como Professor-Adjunto convidado na Licenciatura de Teatro e Educação da ESEC/IPC (interpretação, dramaturgia e encenação) e de 2015 a 2018 como Assistente convidado na Licenciatura em Estudos Artísticos na Universidade de Coimbra. Detêm o Título de Especialista em Teatro desde 2016. Investigador do CEIS20 – Centro de Estudos Interdisciplinares do Séc. XX da Universidade de Coimbra. Doutorando em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra desde 2018 com o projeto “Dramaturgias Políticas Contemporâneas – More than Words?Mediações entre o Teatro do Real e o Teatro Ficcional”.
Como Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, frequentou a London International School of Performing Arts – método Jacques Lecoq (2013). Mestre em Teatro, especialização em Encenação, pela Escola Superior de Teatro e Cinema (2010). Desde 2015 codirige o Clube de Leitura Teatral (Teatro Académico de Gil Vicente/A Escola da Noite). Foi Júri da Êcole de Mâitre – curso internacional de aperfeiçoamento de atores desde 2014 até 2018. Em 2019 ganhou a melhor tradução de texto para português no EURODRAM, com Caldarium de Sabrina Mahfouz, traduzido do inglês.
Fotos © Ricardo Correia