DOSSIÊ | Guerra Colonial, contextos e tomada de consciência
SEM FRONTEIRAS | 20 de março 2021 | A Guerra Colonial nas páginas dos Livros Exílios 1 e 2. Editado CR- Sem Fronteiras
Retomamos o tema da Guerra Colonial cujo lançamento num Dossiê de médio-longo prazo em, 4 de fevereiro 2021, teve em conta os 60 anos do início das ações da guerrilha em Angola. Vamos agora ao encontro dos elementos que estruturaram os percursos de exílio e de deserção em reação à incorporação nas forças armadas opressoras dos povos coloniais.
Narrativa Carlos Neves | Exílios.2
OS CONTEXTOS
Pepe, Manolo e Afonso, os missionários da Ajuda
Afinal há milagres, aconteceu na freguesia da Ajuda, quando jovens padres espanhóis estudavam a língua e cultura para irem missionar para as colónias portuguesas. Estes padres, Pepe, Manolo e Afonso, trouxeram sangue novo, ideias novas, rapidamente ficaram os mais populares e desejados pelos jovens. Os retiros deixaram de ser aquela coisa dogmática, o cinzentismo da fé passou a um colorido rejuvenescido.
Calçada da Ajuda
Except, Foto © Rui Sampaio
|Ler sobre oposição católica ao Estado Novo ao regime|
| Entrevista com Nuno Teotónio Pereira e Fernando Rosas “Em tempo de mudança, a História do Século XX”|
Retiros para tirar dúvidas
Os temas tradicionais do pecado, confissão, sacrifícios, evoluíram para o seu contrário. Confessar para quê? A quem interessava aquela informação? Sobre Fátima questionava-se a verdade da aparição. Um milagre numa azinheira? A Guerra Colonial apoiada pela igreja? E onde estava a paz no meio disto tudo? E porque morriam os povos africanos? Morrer e matar em nome da fé? Nestes retiros ouvi pela primeira vez a palavra Democracia. A palavra Liberdade descobri-a mais tarde.
Ventos que entram nas paróquias
Em 1968, um grupo de fiéis e dezenas de padres fecharam a igreja de S. Domingos e lá permaneceram até de madrugada. O Cardeal Cerejeira e outros representantes do Estado Novo tiveram que ouvir os valores da paz e um “não à Guerra”. Apesar de muito jovem, senti estes ventos entrarem na minha paróquia. Os meus três padres espanhóis estavam neste movimento. Nunca mais os vi, não houve despedida. A Pide/DGS deteve-os. Soube mais tarde que a Igreja os desterrou para algures, na América Latina.
A TOMADA DE CONSCIÊNCIA
O choque do serralheiro
Um dia fui visitar um amigo que tinha sido ferido em Angola, estava no Hospital. Foi um choque o que encontrei, corpos muito feridos, destroçados, eram rapazes como eu. Acho que foi nesse dia que disse que para a guerra nem pensar. Estava com 19 anos a terminar o curso de serralheiro mecânico na Escola Industrial, tinha dado o nome e seria incorporado em Outubro de 1971.
Foto Joaquim Coelho , Espaço Etéreo
A guerra entre bilhar e futebol
Com amigos do desporto, do café, da igreja, do bairro, ou familiares, conversávamos sobre futebol, muito bilhar, namoradas, mas havia um ponto comum, Guerra Colonial. Neste processo três pessoas foram fundamentais para a decisão que iria tomar. O Jorge, o António e o Carlos.
A TOMADA DE DECISÃO
O Jorge trabalhava em Alverca na Fábrica de Material Aeronáutico, o António e o Carlos trabalhavam na TAP. Os primeiros meses do ano de 1971 foram decisivos. O que aconteceu a seguir foi uma bola de neve. Por trabalharem na TAP, viajavam com facilidade e conheciam alguma Europa, a Holanda foi o país que aconselharam.
NARRATIVA DE CARLOS NEVES | Livro EXÍLIOS.2 | Páginas 64-69. |
Foto destaque © Carlos Neves, pag 64 , Exílos.2