15 de Setembro, 2024

Colóquio na Universidade de Nanterre sobre escritoras portuguesas no período do Estado Novo

AGENDA | Jornadas de Estudo na Universidade de Nanterre | 24 de fevereiro de 2022

Importa reconhecer que apesar de tardiamente, e ainda de forma muito tímida, o tema da participação das mulheres na resistência contra o regime salazarista e do seu papel determinante na produção de referências culturais fundamentais da estruturação identitária do Portugal moderno está colocado na ordem do dia da agenda política e cultural.

Programas recentes na RTP2 como “Mulheres na resistência”, a partir de elementos do arquivo da história oral do centro de documentação 25 de Abril de Coimbra sobre a vida de 4 mulheres na resistência e a exposição “Mulheres e Resistência – Novas Cartas Portuguesas e outras lutas” que decorreu entre 6 de maio e 31 de dezembro de 2021 no Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, tendo contado com “uma vasta programação paralela que pretendeu ligar múltiplas perspectivas sobre a luta pela igualdade e pela liberdade” são alguns exemplos das inúmeras iniciativas que ocorreram, com enorme sucesso, diga-se, num passado recente.

Femmes écrivaines portugaises pendant la dictature militaire et l’État Nouveau (1926-1974).

Surge desta forma como particularmente estimulante e desafiante o colóquio que vai ter lugar em Paris, já no próximo dia 24 de fevereiro, na Universidade Paris Nanterre no quadro das segundas Jornadas de Estudo cujo tema central é Femmes écrivaines portugaises pendant la dictature militaire et l’État Nouveau (1926-1974).

A iniciativa é organizada pelo CRILUS e pela Chaire Lindley Cintra, Camões, I. P. Tivemos a oportunidade de colher os pontos de vista dos organizadores sobre os objetivos do evento através de uma curta ENTREVISTA realizada a distância, que nos proporcionou a informação e a reflexão que se seguem:


“A jornada integra na análise do literário outras abordagens que se estendem da sociologia ao direito, passando pela história da cultura ou pelos estudos de género e pós-coloniais”

— Coletivo organizador do evento

ENTREVISTA | Carlos Ribeiro SF

SEM FRONTEIRAS (SF) – Esta jornada sobre as mulheres escritoras portuguesas situa-se principalmente no terreno da análise e da investigação literária ou pelo contrário posiciona-se num campo mais político (da ciência política e não da sua prática)  tendo em conta o contexto que é aqui suscitado pelo regime autoritário e ditatorial?

Coletivo Organizador do Evento (EOV) : O evento que organizamos tem uma filiação natural no campo disciplinar dos estudos literários, embora a eles não se restrinja. Adotamos assim uma perspetiva que assenta na ideia de interdisciplinaridade e de abertura a outros domínios do saber, capazes de iluminar, numa filosofia de complementaridade, o nosso objeto de estudo. Admitindo que a produção literária de mulheres escritoras durante o período do Estado Novo solicita um olhar poliédrico, a jornada integra na análise do literário outras abordagens que se estendem da sociologia ao direito, passando pela história da cultura ou pelos estudos de género e pós-coloniais. Uma reflexão sobre as condições de produção literária das mulheres durante a ditadura vai a par de um  olhar atento sobre a  dimensão política dessa  escrita imponde-se, portanto, uma ótica de diálogo e de cruzamento disciplinar.


“Além da recolha de novos corpus de estudo em arquivos, constata-se um trabalho de “ver/rever” o estado da arte, que se interessa em particular por temas silenciados”.

— Coletivo Organizador do Evento

SF – Poderá ser considerado como um elemento novo o fato de jovens investigadores da Academia, em França, se interessarem pelos temas da ditadura/democracia em Portuga

COE – Na última década foram defendidas em França várias teses de doutoramento que estudam temas relacionados com ditadura/democracia em Portugal. Há um novo surto de jovens investigadores que se debruçam sobre as questões ditatoriais e pós-ditatoriais, coloniais e pós-coloniais. São estudos que se apoiam sobre metodologias e procedimentos inovadores, que são pluri e interdisiciplinares e se orientam para a história e história cultural e das ideias, literatura, artes visuais entre outros. Além da recolha de novos corpus de estudo em arquivos, constata-se um trabalho de “ver/rever” o estado da arte, que se interessa em particular por temas silenciados.

SF – Que expectativas existem para as jornadas de outubro em Portugal que terão o mesmo tema de Nanterre, da próxima semana?

COE – O Colóquio Internacional Escritoras no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo. Subversão e solidariedade feminista: o cinquentenário das Novas cartas portuguesas, que terá lugar a 13 e 14 de outubro de 2022, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, é uma continuação da reflexão feita na Jornada de Paris Nanterre.

Pretende-se homenagear o livro, escrito por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, mas focar-se-á também na produção das autoras portuguesas deste período, que foram, em parte, silenciadas pela imprensa coeva, maioritariamente masculina.

Será dado um grande destaque às escritoras francesas desta época, lidas na língua  original ou através de traduções, que tiveram uma grande influência na literatura portuguesa, escrita por mulheres. De igual forma, ter-se-á em conta a solidariedade internacional que se teceu face à perseguição judicial de que foram vítimas as autoras das Novas cartas portuguesas.

Este colóquio integra-se no projeto Escritoras de língua portuguesa no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, África, Ásia e países de emigração, tendo como parceiros o IELT, CICS.NOVA/Faces de Eva, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e o CRILUS, UR Études Romanes, da Universidade Paris Nanterre.

  • Gonçalo Cordeiro
  • Graça Dos Santos
  • Idabel De Jesus
  • Teresa Almeida
  • José Manuel Esteves

Programa (em francês)

  • Dans le cadre du projet subventionné  par la Fondation Calouste Gulbenkian :
  • Écrivaines portugaises pendant la dictature militaire et l’État Nouveau  
  • IELT / CRILUS/ CICS.NOVA-FACES DE EVA
  • 24 février 2022 | 9 h 30 – 17 h 30 | Bâtiment W | Amphithéâtre Max Weber

PROGRAMME

9 h 15 : Accueil des participant·e·s

9 h 30 : Ouverture de la journée d’étude

Danièle PAYCHA, directrice de l’UFR LCE – Université Paris Nanterre, Christophe MILESCHI, directeur de l’UR Études Romanes, Graça DOS SANTOS, directrice du CRILUS, Teresa SOUSA DE ALMEIDA, responsable du projet  « Écrivaines  portugaises  pendant  la  dictature »  (IELT/CRILUS/CICS.NOVA-FACES  DE  EVA),  Isabel HENRIQUES DE JESUS, directrice de Faces de Eva, José Manuel ESTEVES, responsable de la Chaire Lindley Cintra, Camões, I. P, Adelaide CRISTÓVÃO, coordinatrice de l’enseignement Portugais en France

50 ANS DE LA PARUTION DES NOUVELLES LETTRES PORTUGAISES : LIENS AVEC LA FRANCE

Modératrice : Graça DOS SANTOS

10 h 00 : Teresa SOUSA DE ALMEIDA | Université Nova de Lisboa – IELT

L’Énigme des Lettres portugaises et la déconstruction de l’institution littéraire dans Novas Cartas Portuguesas

10 h 20 : Adília CARVALHO | Université du Luxembourg – IRMA, Camões, I.P.

Vers une généalogie de la réception de Nouvelles Lettres Portugaises en France

  1. h 40 : Isabel HENRIQUES DE JESUS | Université Nova de Lisboa – CICS.NOVA-FACES DE EVA

Violence et solitude dans Novas Cartas Portuguesas des « trois Marias » et L’Événement d’Annie Ernaux

  1. h00 : Débat

11 h 20 : Pause

L’AFFIRMATION DU FEMININ : DE LA SPHERE INTIME A LA SPHERE DE L’HISTOIRE

Modérateur : José Manuel ESTEVES

11 h 30 : Ana Luísa VILELA | Université d’Évora – Centro de Literatura Portuguesa (Coimbra)

Florbela Espanca, fatalement femme

  1. h 50 : Alda Maria LENTINA | Université Dalarna – KIG / LIT / CRIMIC (Paris)

L’Histoire selon Agustina Bessa-Luís : de la femme sans histoire aux femmes dans l’Histoire

  1. h 10 : Débat

12 h 30 – 14 h 30 : Pause déjeuner

CONSTRUCTION DE L’IDENTITE ET ALTERITES

Modérateur : Gonçalo CORDEIRO

14 h 30 : Agnès LEVÉCOT | Université Sorbonne Nouvelle – CREPAL

Le Paysage macanais selon Maria Ondina Braga dans A China Fica ao lado

  1. h 50 : Raquel SABINO | Université d’Évora

L’Influence de l’Autre dans la construction de l’identité des personnages de Maria Judite de Carvalho

  1. h 10 : José Manuel ESTEVES | Université Paris Nanterre – CRILUS / Chaire Lindley Cintra, Camões, I. P. Configurations familiales et intergénérationnelles en trois ouvrages des écrivaines Maria Archer, Maria Judite de Carvalho et Luísa Dacosta

15 h 30 : Débat

RESISTANCES : MIGRATION, GENRE ET FORMES LITTERAIRES EN MOUVEMENT

Modératrice : Isabel HENRIQUES DE JESUS

  1. h 50 : Gonçalo CORDEIRO | Université Paris Nanterre – CRILUS

La Harpe suspendue : condition exilique, mémoire traumatique et impossible retour chez Ilse Losa

  1. h 10 : Isabel VIEIRA | Université Paris Nanterre – CRILUS

Les Femmes dans l’œuvre de Nita Clímaco

16 h 30 : Rita NOVAS MIRANDA | Université Paris Nanterre – CRILUS / ILCML (Porto)

Du genre et de l’indéfinition : les premières Tisanas d’Ana Hatherly

  1. h 50 : Débat
  2. h 30 : Clôture

Comité exécutif : Marina BERTRAND, Gonçalo CORDEIRO, Graça DOS SANTOS, José Manuel ESTEVES, Rita NOVAS MIRANDA

Editor

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