Exílios Sem Fronteiras foi apresentado em Alcântara com debate e relato de experiências
LIVROS & MÚSICA | Exílios Sem Fronteiras – Exílios.3
A apresentação do livro Exílios Sem Fronteiras teve lugar na Biblioteca de Alcântara, no Palacete do Conde de Burnay onde no passado funcionou a Escola Comercial Ferreira Borges. Foi aqui, em 1961, quase em frente à escola que foi assassinado pela PIDE o artista plástico e militante antifascista José Dias Coelho, imortalizado por Zeca Afonso na música “A morte saiu à rua”.
Na mesa da sessão para além de Carlos Ventura, coordenador da Tertúlia Cidadãs/Cidadãos Cidadania e do editor, constaram José Augusto Martins que esteve exilado em Paris e foi co-autor do livro, sendo ainda membro da Direção da AEP61/74 – Associação de Exilados Políticos Portugueses e José Pires Brazão que também tendo sido exilado político em diversos países, conheceu posteriormente, como quadro da ONU, situações de refúgio em inúmeros países do mundo.
O livro foi apresentado como obra de um coletivo que se enquadra na Coleção Exílios cuja primeira série conta com dois livros que transcrevem narrativas de aproximadamente meia centena de ex-exilados e desertores da guerra colonial. A atual segunda série, com abordagens mais temáticas, é inaugurada e preenchida por este Exílios Sem Fronteiras e estando prevista para breve a publicação do Exílios no Feminino – Exílios.4.
Foi destacada a presença no livro de uma homenagem às instituições e pessoas dos países de acolhimento que apoiaram os refugiados portugueses. Tratou-se de um reconhecimento simples mas com grande valor simbólico que valoriza a solidariedade entre os povos.
Antes ainda do debate foi destacada a persistência e o espírito de rigor da revisora do livro, que também já o tinha sido dos dois anteriores, Beatriz Abrantes, que também conheceu a experiência do exílio antes do 25 de abril.
A estratégia de edição desta publicação agora divulgada baseou-se em algumas ideias-força tais como:
- os peritos do exílio são em primeiro lugar os exilados e importa que a sistematização da sua experiência seja realizada em primeiro lugar pelos próprios;
- a necessidade de introduzir uma reflexão mais segura e consistente sobre o exílio e sobre as opções de deserção da Guerra Colonial implicou a construção de um mosaico, a partir das narrativas produzidas pelos autores, que foi estruturado em torno de 12 temas de reflexão e aprofundamento;
- o valor da experiência e o sentido que cada um lhe atribui esteve no centro das abordagens mais reflexivas nomeadamente sobre a importância de transformar os adquiridos nestes processos em aprendizagem e em capital social útil para o indivíduo mas também para a comunidade no seu todo.
O debate que se seguiu foi intercalado com testemunhos concretos de outros autores presentes na sala como foi o caso de José Rosa que entrou nos pormenores das suas aventuras parisienses.
Helena Cabeçadas, autora de vários livros sobre o tema do exílio, interpelou os presentes sobre a natureza do próprio exílio e os impactos que podem advir de uma situação marcadamente de mutilação, face a um percurso de vida expectável.
Várias intervenções mencionaram a relação dos exilados com os imigrantes portugueses de base económica. Foram ainda comentadas as opções de edição do livro, que foram claramente valorizadas por facilitarem uma abordagem organizada dos temas que importa agora aprofundar, tendo sido reafirmado que os autores dos diversos livros já publicados poderão retomar a tarefa da escrita e da produção de novos conteúdos como contributo para as memórias da resistência e luta mas também para influenciar a ação de combate à extrema-direita nos nossos dias.
Fotos @CR/SF | Editado 4/3/2022 – 9h39