Caldas da Rainha, território de resistência e luta
DOSSIÊ | Caldas TRL, 16 de março de 2022
Com o 16 de março, data histórica para o país e para a cidade das Caldas da Rainha abrimos o nosso segundo DOSSIÊ TRL depois daquele que concretizámos em janeiro passado sobre a MARINHA GRANDE com a data de 18 de janeiro de 1934 como referência central.
Há mais Caldas para além do 16 de março, da cerâmica e do Hospital Termal. Nos próximos dias iremos comprová-lo com várias incursões temáticas e históricas que remetem para instituições e pessoas de grande valor humano, científico, político e cultural.
Mas como é habitual no SEM FRONTEIRAS e nosso método passa em primeiro lugar para dar voz. Facilitar a expressão de ideias, opiniões e narrativas que nos interessam a todos.
Desde já garantimos a quem nos vier a acompanhar nos próximos dias que valerá a pena. Já imaginaram, em relação às Caldas antifascista, uma parada da Mocidade Portuguesa, nos anos sessenta, com todos os presentes fardados a preceito, com o cinto dos calções beijes com o S de Salazar e tudo e no meio do grupo disciplinado e perfeito na sua postura para-militar encontrar-se um jovem, com um macacão próprio dos trabalhos manuais das Escolas Comerciais e Industriais e afirmar ao “oficial da MP” que o interpelou “esta é a minha farda, não tinho outra….”. Enfim. histórias não vão faltar.
16 de março comemorado junto ao monumento
Hoje, pelas 11h, teve lugar uma cerimónia organizada pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha que reuniu junto ao monumento evocativo do levantamento do 16 de março várias entidades da cidade e os representantes da Escola de Sargentos do Exército que tiveram oportunidade de ouvir o autor da escultura, José Santa Bárbara, fundamentar as suas opções estéticas na conceção e desenvolvimento da obra.
O Tenente-Coronel Hélder Coelho, 2º Comandante da Escola de Sargentos do Exército, também adiantou algumas palavras de circunstância dando destaque “ao 16 de março como data importante e relevando o fato de ter sido da Escola de Sargentos do Exército que partiu uma coluna militar para Lisboa. Fracassou, é verdade, mas foi percursor do 25 de Abril de 1974 que implantou o sistema político que temos hoje, a democracia” e concluindo “desejo enaltecer os camaradas que sairam daqui, e embora tenha corrido mal, deram o impulso para o 25 de Abril e para o regime democrático”.
Por sua vez o Presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Vitor Marques, leu uma mensagem que no essencial recuperou os elementos centrais do acontecimento histórico e valorizou a ligação do 16 de março ao 25 de Abril nos seguintes termos “O nexo causal entre o 16 de março e o 25 de Abril não está ainda totalmente explicado, no entanto, parece claro que as mesmas causas lhes estarão estado subjacentes, ou seja, a conflitualidade entre o poder político e o poder militar decorrente de uma guerra sem fim à vista, o desalento de milhares de jovens cujo futuro se apresentava incerto, os ventos da modernidade que chegavam da Europa e do Mundo, em suma, o esgotamento do regime do chamado Estado Novo.
Por outro lado, a forma inequívoca como o povo, na sua esmagadora maioria, abraçou 40 dias depois do golpe das Caldas, a queda do Estado Novo a 25 de Abril, revela que, independentemente de outros considerandos, o 16 de março estava do lado certo da História.
Aos militares que em meados da década de 70 do século XX encetaram e conduziram ações de sublevação que desequilibraram e. por fim, desmantelaram o regime totalitário do Estado Novo, permitindo a construção da Democracia, a nossa sentida homenagem”.
A cerimónia decorreu com simplicidade e com o empenho de todos os participantes que se agruparam junto ao monumento acompanhados pelo escultor e as diversas entidades oficiais.
Fotos © Carlos Ribeiro / Sem Fronteiras