O velho Brasil e a nova tentativa de golpe
Acendeu a luz vermelha da ONU sobre a força nociva da extrema direita à democracia mundial
Para o SEM FRONTEIRAS | Por Marta Torezam, jornalista, São Paulo, Brasil
Passados quatro dias dos ataques terroristas em Brasília, ocorridos no último dia 08, pelo grupo de extrema direita bolsonarista, cujos prejuízos financeiro, histórico e cultural ainda estão sendo calculados, quando parte dos prédios e mobílias da Suprema Corte, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional foram destruídas, o Brasil vive um clima de indignação e busca respostas sobre como foi possível tamanha brutalidade nas barbas do exército e das polícias incumbidas da segurança da capital do País.
O governador do Distrito Federal, Brasília, Ibaneis Rocha, foi afastado do cargo por 90 dias e a vice, Cecília Leão assumiu o governo com a promessa de colaborar na restituição da ordem, na identificação dos culpados do quebra-quebra e da possível leniência das forças policiais. O secretário de Segurança do DF, Anderson Torres foi demitido, mas ainda se encontra em férias nos Estados Unidos, mesmo destino para o qual o ex-presidente Jair Bolsonaro viajou antes da solenidade de posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Torres está com a prisão preventiva decretada.
Enquanto equipes de funcionários contabilizam os danos da depredação e fazem a limpeza dos ambientes, o presidente Lula se reuniu com governadores, prefeitos, líderes políticos e institucionais para estancar os riscos de novos ataques, uma vez que as refinarias, hidrelétricas e rodovias são alvos desejados pelos baderneiros que lutam destemperados, imaginando a volta de Bolsonaro ao poder, derrotado nas urnas em 30 de outubro de 2022.
O ministro do Supremo Tribunal Federal – STF, Alexandre de Moraes tem sido uma espécie de Lionel Messi nesse conturbado jogo político nos últimos quatro anos. Enquanto Lula, no mesmo dia 08, decretou a intervenção no processo de segurança de Brasília o ministro Moraes, que ostenta o carinhoso apelido de “Xandão”, trabalhou de madrugada e afastou o governador Rocha, mandou desmontar os acampamentos dos bolsonaristas em todo o Brasil e determinou a detenção dos vândalos, que até o presente momento somam 1.500 pessoas envolvidas na invasão da Praça dos Três Poderes. As empresas Facebook, Tik Tok e Twitter foram obrigadas a bloquear canais, perfis e contas dos integrantes do movimento e colaborar com o STF, fornecendo dados dos usuários criminosos. Na tarde de ontem, 10, Morais ordenou a prisão do ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fábio Augusto Vieira, responsável pelo comando da corporação no domingo, dia 08. Vieira já havia sido afastado do cargo pelo interventor Ricardo Capelli.
Neste cenário estarrecedor a imprensa brasileira se arrisca nas trincheiras violentas, com repórteres agredidos, busca vasculhar todas as facetas da tentativa de golpe. Há elementos visíveis e risíveis sobre a participação das Forças Militares que, mesmo sem o costumeiro apoio de forças ocultas internacionais, na obstrução da democracia brasileira, ousou apostar em uma peça de teatro amadora, composta por personagens comuns da sociedade, afetadas pelo vírus bolsonarista, desprovidas de noção da realidade, disponíveis e transformadas em bucha de canhão, dispostas a morrer pela “pátria”.
Não deu certo, o golpe tabajara não se concretizou, mas deixou um rastro de prejuízos financeiros, éticos, morais e emocionais ao povo brasileiro. Acendeu a luz vermelha da ONU sobre a força nociva da extrema direita à democracia mundial. E a esperança depositada no novo presidente para que começasse 2023 a todo vapor, implementando o Plano de Governo, foi frustrada. Diante de tantas urgências e carências das massas, o incansável Lula está fazendo o papel de delegado, afinal, o País se transformou em uma delegacia, quiçá temporária, para combater crimes inéditos na nossa história: brasileiros (as) terroristas a serviço de forças nada ocultas.