19 de Setembro, 2024

O nome do Vasco foi um dos que diversos camaradas indicaram como alguém a procurar quando arribasse «là-haut»

Rui Bebiano, num apontamento pessoal sobre a falecimento de Vasco de Castro, exprime a partir de referências simples o que muitos, dos tempos de exílio antes do 25 de abril e do pós Dia da Liberdade, gostariam de recordar e de valorizar no homem e no militante de causas que marcou, para sempre, o “cartoonismo” português.

Foto: Vasco em Paris 1967 DR – reproduzida pelo jornal Público

Por Rui Bebiano


Quase a completar 86, desapareceu hoje Vasco de Castro, Vasco, o grande cartoonista e resistente, que tão vasta colaboração deixou, em jornais de referência e outros que já poucos recordam, e o emigrado político a quem, sobretudo em Paris, tantos recorreram nos anos finais da ditadura.

Nunca o conheci em carne e osso, mas quando estive em vias de seguir o trilho da saída para resistir à guerra, só o não fazendo porque aconteceu Abril, o nome do Vasco foi um dos que diversos camaradas indicaram como alguém a procurar quando arribasse «là-haut».

Ao contrário da maioria dos jovens militantes ultrapolitizados que começaram a chegar à cidade sobretudo nas vésperas de 68, ele viera mais cedo, em 1961, e, de algum forma, era, então, um homem já integrado no meio político e cultural parisiense, ajudando muitos desses imigrados a instalar-se e a superar as dificuldades de adaptação.

Nada, todavia, que lhe tivesse esgotado o amor da terra onde nascera. As últimas palavras do livro de memórias «Montparnasse. Até ao esgotamento das horas», de 2008, que retomou um anterior «Montparnasse, Mon village», termina com a chegada, a 30 de Abril de 1974, ao país agora libertado:

«Quando a voz do piloto anunciou que se estava a entrar em Portugal, suponho bem que todos nos calámos e fomos espreitar por cima das nuvens, ingénuos como meninos, de que eram feitos os campos, a cor das árvores e adivinhar o nome dos casarios.»

Rui Bebiano, Professor Universitário

Editor

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