14 de Setembro, 2024

H | Quando o golo é festejado no Chrysler Imperial

SEM FRONTEIRAS | 4 de dezembro 2020 | História com H grande |

No dia 4 de dezembro de 1961 os presos de Caxias marcaram golo no calendário da liberdade. Como os golos atípicos andaram recentemente na ribalta, o caso mais evidente foi aquele que a mão de Deus ajudou a concretizar contra a Inglaterra em 1986, quisemos sinalizar que há golos e golos e os obtidos no recreio de uma prisão seriam certamente validados pela associação nacional do futebol de rua.

texto do Museu do Aljube Resistência e Liberdade | editado SF

No dia 4 de dezembro de 1961, José Magro, Francisco Miguel, António Gervásio, Domingos Abrantes, Guilherme Costa Carvalho, Ilídio Esteves, Rolando Verdial e António Tereso, dirigentes do PCP que aguardavam em Caxias a transferência para a Fortaleza de Peniche, protagonizaram uma das mais memoráveis fugas das prisões do regime.

Tereso o mal-rachado

Aproveitando a confiança que António Tereso, mecânico, gozava junto dos guardas da cadeia, que julgavam tê-lo “rachado”, o plano da fuga delineado passava pela utilização de um automóvel blindado cujo arranjo lhe estava confiado. Não se tratava de uma qualquer viatura, mas do Chrysler Imperial de 1937, que estivera ao serviço de Salazar.

Tereso, ao volante do carro blindado, atravessou de marcha atrás o túnel que ligava o pátio principal (com acesso ao exterior), onde uma dezena de presos encenava um jogo de bola durante o “recreio”. Quando o carro chegou ao pátio interior, os presos rodearam a viatura e, ao grito de «Golo!», entraram para o Chrysler, arrancando a grande velocidade pelo túnel e rebentando o portão exterior.

Espetacular e audaciosa fuga

O relatório oficial desse dia conta a fuga:«No dia 4 de Dezembro de 1961, pelas 9h35m, sete reclusos que se encontravam no fosso interior do reduto Norte do Forte de Caxias na hora do recreio, auxiliados por outro recluso da sala de trabalho do mesmo Forte (a sala dos rachados), levaram a cabo uma espectacular e audaciosa fuga, aproveitando com raro sentido de oportunidade não só os meios materiais de que puderam dispor, como o ambiente de confiança que se havia generalizado à volta de um dos evadidos cuja liberdade de movimentação dentro do Forte era praticamente ilimitada e lhe permitiu levar até ao local do início da fuga um automóvel sem despertar a mínima suspeita».

A história está também contada na exposição permanente do Museu do Aljube Resistência e Liberdade.

Foto © Museu do Aljube Resistência e Liberdade

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